Data: 20/08/2003
Sessão: 1203/03
Hora: 15h02
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre
Cardoso) - Obrigado, Deputado Michel Temer. Quero adiantar ao Deputado
Michel Temer e ao Senador Jorge Bornhausen que o Deputado Ronaldo Caiado
encaminhou projeto a esta Comissão, no sentido de que haveria eleição
dentro do partido - cada militante votaria 3 vezes e a escolha seria
pelo mais votado. Inclusive, Deputado Michel Temer, existe, para a
eleição de 2006, a garantia de localização da lista do resultado da
última eleição. Essa consulta foi feita informalmente ao TSE, e o
Ministro Jobim confirmou a constitucionalidade desta questão. Seria em
lista, com os militantes votando e as pessoas mais votadas seriam a
primeira na lista, a segunda e assim sucessivamente.
Senador Bornhausen, agradeço-lhe a participação, em nome da Comissão. (Palmas.)
Passo a palavra ao Deputado Enéas, que tem grande experiência em obter votos.
Quero
registrar aqui a sua experiência de ter participado de algumas
eleições, cargos majoritários, bem como a contribuição que S.Exa. presta
a esta Casa sobre a construção do PRONA. Em meu nome e em nome dos
membros da Comissão, agradeço a S.Exa. a participação.
Conheci o Deputado Enéas quando ele era professor de um curso chamado Gradiente, no Rio de Janeiro. Ele é muito didático.
Estamos discutindo o voto em lista, o financiamento público, o fim das coligações e a federação de partidos.
Dificilmente
se encontra um mecanismo para falar em financiamento público sem lista.
A experiência que houve na Itália levou ao início da Operação Mãos
Limpas, mas ninguém conseguiu o fim das coligações e da federação de
partidos.
Quero registrar, primeiro, as desculpas por colocar esses
pontos, mas evidentemente como essas matérias estão sendo debatidas na
Comissão, gostaríamos que V.Exa., Deputado Enéas, avançasse mais nesses
temas. Os outros são matérias de emenda à Constituição e esta Comissão
preferiu avançar em matéria de lei ordinária.
Com a palavra o Deputado Enéas, Presidente Nacional do PRONA.
O SR. DEPUTADO ENÉAS - Muito obrigado pelo convite, Sr. Presidente, Sr. Relator e demais colegas.
Solicitado a me pronunciar, a primeira pergunta de V.Exa. foi sobre experiência política.
Quero
dizer que se há algo que me preocupa profundamente desde que me lancei
há 14 anos no processo é a fidelidade partidária. Cheguei, certa feita,
em São Paulo, a pedir às pessoas que escrevessem a palavra PRONA; 56.000
pessoas escreveram a palavra PRONA. Eu tinha apenas 4 candidatos
desconhecidos em uma lista aberta; o mais votado foi uma senhora eleita
com 1.000 votos, fato insólito na história de São Paulo. Um mês depois,
ela saiu do partido, porque absolutamente não aceitava as determinações
que partiam do comando nacional, fato que já vem se repetindo.
Sem
ter participado de nenhuma das reuniões, uma vez que não pertenço à
Comissão - estou sendo bem sintético -, e em sendo solicitado a me
manifestar, peço que cuidem bem disso. Quero crer que se trata de
questão de importância primacial, para que não permitamos, detentores
que somos do comando de estruturas político-partidárias, que alguém se
aproxime de nós, nos jure amor eterno, seja eleito pela força de uma
legenda e logo depois se afaste.
Este é o meu pedido a V.Exas.
No que concerne à lista, o Deputado Michel Temer foi extremamente feliz
quando se pronunciou, uma vez que, considerando que o Presidente
Nacional e os outros membros da Executiva têm esse poder de fato, chega
a ser proibitiva a participação de outras pessoas que não sejam aquelas
escolhidas.
Tenho exemplo recentíssimo, todos conhecem. Escolhi
pessoas de meu conhecimento, que ajudaram a fundar o partido; foram
eleitas por mim. Viemos juntos, se acertei ou errei só o tempo dirá,
embora até agora tenha havido, pelo menos, coerência nas votações.
Concordo,
Deputado Michel Temer, com o exemplo que V.Exa. citou, que deve haver
uma eleição prévia; e talvez, pouco a pouco, em 2 ou 3 eleições, se
consiga peneirar o número mínimo de pessoas que satisfaçam aquelas
condições exigidas pelo partido.
Quero crer que a lista é a melhor
solução, sem dúvida, para não ficarmos na mesma situação anterior, isto
é, que qualquer pessoa, sem vínculo nenhum com o partido, filie-se 1 ano
antes e seja eleito, devido ao seu poder econômico ou algo parecido.
Estou de acordo com essa restrição.
Financiamento público é uma questão complexa. Se o financiamento
público - não sei de que maneira, como disse no início, não participei
das reuniões - permitir que todos tenham acesso, estou perfeitamente de
acordo. Nada melhor, no meu ponto de vista, do que os fatos às claras.
O que eu fiz? Agora sou obrigado a falar da minha experiência. Como não tinha recursos, escrevi um documento chamado Uma Cartilha.
V.Exas. viram o escândalo que isso causou. Nela eu pedia que as pessoas
que se aproximassem de mim adquirissem aqueles elementos cognitivos da
doutrina partidária. Foi suficiente que um indivíduo sem informação e
sem caráter dissesse que estava sendo cobrado, para causar um escândalo
nacional. Estou com minhas contas todas abertas sendo investigadas,
porque está claro que os juízes não têm nenhum poder econômico para
isso. Mas financiamento público é algo, a meu ver, extremamente
respeitável.
Fim das coligações. Particularmente, jamais
participei, mas isso não quer dizer nada. Não participei porque, do meu
ponto de vista, jamais precisei, jamais fui a qualquer lugar ou a
qualquer ponto do País pedir votos. Quando o fiz, foi em favor de um
colega. Digo pela televisão sempre que se há algo de que pudesse
reclamar seria sempre ter sido obrigado a falar em tempo exíguo, como
verdadeira metralhadora verbal. Se isso deu resultado ou não, os fatos
estão aí para quem quiser verificar. Com meio minuto para falar consegui
1 milhão de votos, mais do que o segundo com toda a máquina do Governo
atual que aí está.
V.Exa. pergunta sobre fim das coligações. Se as
coligações fossem feitas com a união de partidos que falassem a mesma
língua, estaria de acordo, mas se são feitas no último momento, visando
apenas a um resultado que, na maioria das vezes, não tem nada a ver com o
que se dizia antes, ou seja, se as coligações visam apenas a uma
eleição, e por essa razão eu as vejo como espúrias, sou contra. Minha
posição é bem clara.
Finalmente, V.Exa. abordou o tema federação. Com sinceridade, não sei o que é. Gostaria que V.Exa. me explicasse.
O SR. PRESIDENTE (Deputado
Alexandre Cardoso) - Deputado Enéas, atualmente as coligações se fazem
exclusivamente para o processo eleitoral. Após o processo eleitoral,
cada partido tem vida própria. A federação é um instrumento que faz com
que o partido se una nacionalmente e mantenha seu vínculo durante toda a
legislatura, impedindo justamente o que V.Exa. disse, que as pessoas se
unam sem nenhum princípio nem vínculo, sem nenhuma estrutura
estatutária, puramente para a questão eleitoral. Portanto, uma das
saídas para manter um conjunto de partidos, na primeira ou na segunda
eleição, seria o instrumento da federação. Esta seria o instrumento que
permitiria a existência de alguns partidos sem caráter nacional que
precisassem se coligar em alguns Estados, com a garantia de que essa
coligação seria regida por princípios, pois teria a obrigação de existir
durante toda a legislatura. Seria o princípio da federação, que não é
hoje o princípio das coligações. É mais ou menos isso.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, eu gostaria de complementar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado
Alexandre Cardoso) - Eu até tomei a palavra do Relator porque já
conversamos muito a esse respeito. Mas vou passar a palavra para o
Relator, porque, na verdade, S.Exa. trabalhou mais o tema. Eu apenas
sintetizei para avançar um pouco mais.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO -
Sr. Presidente do PRONA, Deputado Enéas, quero deixar claro que a
legislação atual impõe que, em 2006, para ter funcionamento parlamentar
na Casa o partido deverá ter 5% dos votos válidos em âmbito nacional e
2% em 9 Estados da Federação.
(Não identificado) - Cláusula de barreira.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO -
Ou cláusula de desempenho, como observou o Senador Jorge Bornhausen. Ou
seja, a federação passa a ser uma alternativa para que esses partidos,
como foi abordado pelo Deputado Michel Temer, com identidade na proposta
apresentada hoje, dentro do seu programa, do seu estatuto, realmente
venham a configurar uma federação, que não pode desaparecer no final do
processo, devendo perdurar toda a legislatura. Com isso terá direito ao
funcionamento parlamentar na Casa. Com maior detalhe, a inclusão da
cláusula de desempenho ou de barreira.
Obrigado.
O SR. DEPUTADO ENÉAS -
Entendi. Seria uma fórmula para corrigir o que aí está. Quer dizer,
esse impedimento que está sendo apresentado à continuidade da existência
de certas estruturas político-partidárias que não alcançaram esse
mínimo.
Haveria muito a discutir, Deputado Michel Temer. V.Exa.
conhece bem mais do que eu a questão no que concerne à
constitucionalidade dessa tese, embora este talvez nem seja o foro
específico. É ou não constitucional o que está sendo proposto? Fere ou
não a Constituição?
Independentemente de ter ou não passado merece uma
análise por um professor de Direito Constitucional. Não o sou, estudo o
assunto, mas não tenho esse título. Lembro também a V.Exa., Deputado
Ronaldo Caiado, que este também tem sido objeto de preocupação para mim.
Tenho me debruçado a pensar qual é o objetivo especifico. Por exemplo,
quando no tempo de uma eleição presidencial, V.Exa. foi meu colega em
1989, disputamos juntos a Presidência da República, V.Exa. recorda que
àquela época exigia-se, em se tendo pelo menos um, que o tempo ao qual o
candidato tinha direito era de 2 minutos e meio, 2 vezes ao dia; se não
existisse nenhum Deputado, o tempo seria de 15 segundos. V.Exa. foi
agraciado com dois minutos e meio, eu fiquei com 15 segundos. A lei
mudou 3 vezes.
Deixo a seguinte indagação para V.Exa.: é legítimo,
num jogo de futebol, um time jogar 10 minutos e o outro 40? Quero crer
que não. Em se aceitando - é apenas uma postulação, já que me foi dado o
direito de falar - que A, B ou C sejam candidatos à Presidência da
República, a pergunta é: não seria racional que os tempos fossem
divididos de maneira equânime?
Aceitar os fatos não é manter o status quo,
não é permitir sempre, se o partido tem mais Deputados, que tenha mais
tempo. É apenas uma pergunta a V.Exa. No mais, estou de acordo com as
teses, minha resposta já ficou clara.
Agradeço a V.Exa. a oportunidade. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Obrigado, Deputado Enéas. Parece-me que o PRONA não tem representante nesta Comissão.
O SR. DEPUTADO ENÉAS - Não tem porque não foi dado ao PRONA esse direito.
O SR. PRESIDENTE (Deputado
Alexandre Cardoso) - Quero propor à Presidência e à Relatoria uma
reunião específica com a bancada do PRONA, para que possamos explicar
todo o projeto. Estamos tendo esse procedimento em todas as bancadas.
Basta entrar em contato com a assessoria da Comissão e marcar para
terça-feira, por volta das 15h30min, para que o Deputado Ronaldo Caiado
possa fazer uma exposição em linhas gerais do projeto que está sendo
apresentado.
O SR. DEPUTADO ENÉAS - Sr. Presidente, muito obrigado.
(...)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado, Deputado José Divino.
Em virtude das 3 intervenções, vou passar a palavra aos expositores.
O
Deputado Enéas terá uma reunião de líderes. Como não foi possível
cumprir o tempo acordado, vou manter a posição da Mesa e dispensar os
expositores.
Com a palavra o Deputado Enéas, para suas considerações finais.
O SR. DEPUTADO ENÉAS - Espero o convite que foi prometido para a próxima terça-feira.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - A assessoria de V.Exa. marcará com a assessoria da Comissão.
O SR. DEPUTADO ENÉAS - Numa terça-feira.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Pode ser, inclusive, nesta terça-feira.
O SR. DEPUTADO ENÉAS - Perfeito.
Após assenhorear-me de todas as questões, será infinitamente mais fácil aduzir algum argumento.
Ouvi
as teses e já manifestei a minha posição. E após V.Exa. fazer o
arrazoado ao Relator, eu me comprometo a voltar a esta Comissão, mas
tendo me assenhoreado de todas as questões.
Obrigado.