quinta-feira, 28 de abril de 2005

Transcurso do Dia do Exército Brasileiro.

Data: 28/04/2005
Sessão: 077.3.52.O
Hora: 12h48

O SR. ENÉAS (PRONA-SP. Sem revisão do orador.) - Exmo. Sr. Vice-Presidente da Casa, figura ínclita do nosso colega Deputado Federal José Thomaz Nonô, Srs. Comandantes das nossas excelsas Forças Armadas, Srs. Oficiais e Praças presentes, povo brasileiro que assiste aos nossos pronunciamentos, ao final de solenidade como esta que se iniciou com a obra de retórica do nosso Presidente e que prosseguiu escudada na força e veemência de tantos colegas que nos precederam, subo a esta tribuna não mais para elogiar as Forças Armadas. Isso seria repetir o óbvio. Mas o faço apenas para contar pequena história, um documento histórico do qual sou testemunha viva.

Para os que não sabem, apesar de ser ridículo me dirigir à população brasileira para dizer tal coisa, sou de origem extremamente humilde. Meu pai era barbeiro e, quando faleceu, comecei a trabalhar aos 9 anos. Desde aquela época, entusiasta que era do conhecimento humano, sonhava ser médico. Na verdade, Sr. Presidente, queria ser um cientista, mas era demais. Ser médico já estava bom. Queria estudar Medicina.

Mas como estudar Medicina trabalhando de 8h às 20h? Trabalhei em feira, empurrando carrinho de mão, em açougue, aprendi a falar e a escrever corretamente, porque naquela época escola pública tinha valor, não é aquilo em que foi transformada por um conjunto de Governos, que, na verdade, se constituíram em inimigos da Pátria. Mas eu queria ser médico. E como fazer?

Trabalhando e fazendo o que naquela época se chamava curso científico, fui fazer o CPOR, que era possível freqüentar nas férias. Mas o que faria depois? Alguém me disse que havia um curso no Rio de Janeiro - à época eu era egresso do Acre e estava em Belém do Pará - da Escola de Saúde do Exército, de onde se saía Praça, como Terceiro-Sargento, e se poderia, com alguns ajustes permitidos pelo Exército naquela ocasião, fazer o curso de Medicina. E eu, menino pobre, humilde, de um miserável bairro de Belém do Pará, que tinha apenas aprendido a falar e escrever corretamente, escrevi uma carta de próprio punho - porque não tinha máquina de escrever - para o Comandante da Escola de Saúde, que não sei se ainda está entre nós, porque isso faz quase meio século. Na época, o Coronel Ernestino Gomes de Oliveira respondeu-me, escreveu para um menino pobre e humilde do interior do País, lá de Belém, dizendo que seria uma honra para o Exército poder ajudar um menino pobre, que bastaria eu fazer o concurso e, em sendo aprovado, mandar-me-iam a passagem. Vejam, senhores brasileiros!

Eu, candidatando-me e tendo passado - graças a Deus, o único de lá -, fui para o Rio de Janeiro e fiz a Escola. Mas havia outro problema: eu queria ficar lá, não queria mais voltar, pois gostei muito da cidade. Havia somente uma vaga, consegui o primeiro lugar no Exército, uma honra, e, repito, passei no vestibular.

E digo para os senhores, antes de passar a palavra ao digníssimo Deputado Inocêncio Oliveira, figura que honra esta Casa, o seguinte: verifiquem exatamente o que quer dizer democracia. Democracia é isso! Democracia é tratamento igual! Democracia é uma instituição poderosa, respeitada, que dá direito ao menino pobre de poder ser gente. Isso é democracia!

No meu ponto de vista, a instituição mais democrática que temos é o Exército Brasileiro.

Ouço, com prazer, o nobre Deputado Inocêncio Oliveira.

O Sr. Inocêncio Oliveira - Caro Deputado Enéas, nobre Líder do PRONA, em primeiro lugar, peço desculpas ao Presidente José Thomaz Nonô, autor do requerimento para realização desta sessão solene, uma das mais justas homenagens já realizadas por esta Casa, porque temos de estar em dez lugares ao mesmo tempo. Hoje, já despachei com o Diretor-Geral a respeito de problemas administrativos, pois sou o 1º Secretário da Casa, já presidi o Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica, onde estamos estudando o software livre no Brasil, além de tantos outros compromissos. Entretanto, não poderia faltar a esta sessão de homenagem. Todos nós, brasileiros, temos o dever e a obrigação de reverenciar o nosso Exército, pois cumpre rigorosamente os dispositivos constitucionais que lhe são assegurados. Os nossos militares são os mais profissionais de todos os exércitos do mundo e dos mais qualificados. Para um brasileiro é honra e privilégio servir ao nosso glorioso Exército; à Marinha, que tem desenvolvido profundo trabalho sobre o uso da energia nuclear para fins pacíficos, a fim de que o Brasil possa desenvolver o ciclo do átomo; à Aeronáutica, que relevantes serviços presta a este País continente. Foi o Brigadeiro Eduardo Gomes quem criou o Correio Aéreo Nacional, quando o Brasil não tinha nenhum tipo de comunicação. Voltando ao Exército, destaco que o Brasil deve muito a essa Instituição. Sou de Pernambuco, onde o Exército nasceu, caro Deputado Enéas, V.Exa. que tanto gosta dos temas sobre a nacionalidade. Em 1654, nos Montes Guararapes, começou a nacionalidade brasileira. A partir daí, começamos a desenvolver um sentimento de brasilidade, de amor à terra e à Pátria. Por isso, desejo congratular-me com o Exército Brasileiro na figura desse grande militar, o General Pedro Cardoso. V.Exa. merece o nosso respeito, assim como o Exército que dirige, pelo sentimento de brasilidade, de amor a este território e pelo sentimento profissional de defesa a este País, até mesmo quando solicitado em determinadas circunstâncias na segurança pública. Este País precisa fazer justiça às Forças Armadas. Não há vocação que se mantenha tendo estômagos vazios, mas as nossas Forças Armadas são tão profissionais que são incapazes de reivindicar aumento de salário, mesmo quando eles estão totalmente defasados. É preciso que as esposas dos militares vão às praças públicas pedir aumento. Peço aos Poderes da República que façam justiça às Forças Armadas brasileiras que vêm com o salário defasado há muito tempo. Não é possível um oficial superior da mais alta envergadura e qualificação receber salário inferior a qualquer ocupante do quarto ou quinto escalão desta República. O reconhecimento à excelência das Forças Armadas se faz também com a concessão de um aumento digno aos militares. Dessa forma, todos poderão dizer que têm seu trabalho reconhecido e que o Brasil, cada vez mais, pode contar com eles no fortalecimento da democracia. Não existe maior conquista do que a democracia e nenhuma Forças Armadas do mundo deu contribuição mais decisiva do que a nossa. Meu louvor ao Exército Brasileiro. (Palmas.)
 
O SR. ENÉAS - Louvável o pronunciamento do nosso colega Deputado Inocêncio Oliveira, eivado de retórica como sói ocorrer em todas as vezes que se pronuncia.

Como testemunha viva do que representa o Exército nacional, cito apenas mais uma lembrança. Rui Barbosa há tempos já dizia que a Pátria é o ar que respiramos, o solo onde pisamos, a língua que pronunciamos. Pátria é algo que existe dentro de nós e jamais nos pode ser retirado.

Quando o Deputado Inocêncio Oliveira diz que sou nacionalista, tenham certeza de que não me envergonho disso. Sou um extremado nacionalista! Aprendi no Exército a mandar e a obedecer. E morrerei assim. Lutarei até o último minuto pela independência do nosso País, e aqueles que ouvem os pronunciamentos que aqui faço sabem que em nenhum instante afastei-me ou pensei em me afastar um milímetro sequer das minhas convicções.

Nacionalistas por excelência defendem o solo pátrio, a nossa língua como patrimônio fundamental de um povo, poupando-nos de toda e qualquer influência alienígena que pretende assenhorear-se do que é nosso, das nossas riquezas, esquecendo-se totalmente da maior de todas as riquezas de um país: o seu povo.

Parabéns, Sr. Comandante do Exército, Senhores Comandantes, Srs. Militares!

Muito obrigado, povo brasileiro! (Palmas.)