Data: 30/03/2005
Sessão: 0239/05
Hora: 10h26
O SR. PRESIDENTE (Deputado Romeu
Queiroz) - (...) Vamos passar ao item 11. Projeto de Lei nº 3.960, de 2004,
dos Srs. Deputados Enéas e Elimar Máximo Damasceno, que dispõe sobre a
substituição, em todo o território nacional, de combustíveis derivados
de petróleo por outros produzidos a partir da biomassa, e dá outras
providências. O Relator é o Deputado Fernando de Fabinho e o parecer é
pela aprovação
(...)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Romeu Queiroz) - Com a palavra o autor do projeto, Deputado Enéas.
O SR. DEPUTADO ENÉAS - Muito obrigado, Sr. Presidente. Muito obrigado, Sr. Relator, Deputado Fernando de Fabinho.
Dividirei a exposição em três itens e serei o mais sucinto possível.
Quero,
primeiro, fazer notas introdutórias sobre a razão de ser que nos leva a
fazer tal proposição, a questão energética de que padece hoje o cenário
mundial, no qual nosso País está inserido.
Eu trouxe uma publicação da revista Petróleo e Política,
do dia 7 de março de 2005, na qual um especialista em petróleo renomado
no mundo, Mr. Engdahl, faz os seguintes comentários, que apenas
testificam a tese, que não é nossa, da crise energética mundial.
Existem provas convincentes de que petróleo e geopolítica estão juntos,
haja vista a invasão recente do Iraque e a absoluta falta de
consistência nos argumentos expendidos por S.Exa. o Presidente americano
quando justificou a invasão.
O Governo americano tenta colocar uma
nuvem de fumaça entre a população mundial e a realidade de hoje. A
realidade — e podemos examiná-la, sem nos determos muito — é que o
petróleo está no fim. Estamos no fim de uma era. Na última década do
século XX, de 1990 a 2000, foram descobertos 42 bilhões de barris de
petróleo e consumiram-se 250 bilhões de barris. Ou seja, para cada
barril descoberto, gasta-se muito mais. A crise já não é uma crise para o
horizonte distante. Ela está aí. Haverá uma queda dramática da oferta a
partir de 2010 ou até antes.
Para encerrar a nota introdutória, eu
trouxe também um dado da Conferência Mundial de Energia, realizada na
Alemanha nos últimos dias, e um texto específico do qual eu leio duas
linhas, das autoridades mundiais: "Não se pode mais perder tempo.
Qualquer momento em que seja protraída a solução será irresponsável e
desculpas ulteriores serão inaceitáveis."
Essa é a questão, a razão de ser do projeto. O petróleo está no fim.
Agora,
no segundo item da minha apresentação, temos uma circunstância
inusitada e ímpar que nos dá toda a condição de darmos o grito de
independência para o mundo. A essa condição eu me refiro falando agora
do que é o nosso País.
Temos uma extensão territorial na qual o sol
está o dia inteiro. É um continente no qual um dia de sol equivale — e
há fontes conspícuas documentando a informação — a 120 mil usinas de
Itaipu a todo vapor. Mas eu não estou falando aqui de célula para
receber o sol e iluminar. Não é isso. Estou falando de um milagre que a
natureza fez com a folha de árvore na qual, por um mecanismo
fotossintético conhecido de quem estuda o assunto, a partir de CO2
tirado da atmosfera, de água e de luz, nós fabricamos glicídeos e
lipídeos.
O Brasil tem condições de ser exportador de energia para o
planeta, tem condições de substituir todos os derivados do petróleo. E,
na verdade, isso já começa a ser feito de maneira marginal. O projeto
que aí está do biodiesel com uma ou outra usina já começa a mostrar que
isso é factível.
Se o Brasil detém essa condição; se cana-de-açúçar
já nos dá álcool, que já entra em bom percentual na composição do
próprio combustível dito gasolina; se já houve um instituto do álcool
que conseguiu substituir a maior parte de todos os veículos — e esse
projeto foi torpedeado pelo Banco Mundial; se é inegável, mesmo lá fora,
a hegemonia do Brasil no que concerne à utilização de energia advinda
da biomassa; se nós assistimos, há alguns dias, a uma conferência na
Comissão de Agricultura da Finlândia, em que um líder finlandês disse
que eles estão tirando energia do lixo; se não precisamos de nada disso,
se temos condições de plantar mandioca de norte a sul do País até como
subproduto material de natureza protéica; se temos uma economia que nos
permite plantar girassol e em 3 meses termos novamente outra safra; se
todos aqueles que andam pelo Brasil sabem da riqueza gigantesca que o
País tem, então, por que não darmos um passo à frente, nos adiantarmos e
estarmos em condição não de sofrer com a crise que está por advir, mas
estarmos à frente?
Por tudo isso, e ainda nesse sentido, estudamos os
custos para que nenhuma crítica acerba, exaltando a inviabilidade e a
inexeqüibilidade de um projeto dessa monta, fosse feita. Calculando os
gastos que temos hoje, consumo de cerca de 750 mil barris/dia de óleo e
cerca de 400 mil barris/dia de gasolina, aos quais está acrescentado o
álcool hidratado, podemos dizer que o custo total do nosso projeto — que
estamos dispostos até a desenvolver na discussão — chega a ser
ridiculamente 1% do investimento global de toda a indústria no País. No
exercício de 2004, foram 280 bilhões de reais. O nosso custo total, em
números médios, trabalhando em reais, chega a ser um pouco inferior a
2,8 bilhões.
Considerando-se que as grandes indústrias brasileiras já
estão se preparando para os próximos 5 anos, onde a crise estará se
apropinquando; se já estão preparadas para substituir um percentual
maior da gasolina por álcool, já estimado em torno de 18%, não vemos por
que ser protraída essa solução. Não há nada que nos impeça isso. Toda a
experiência mundial está esperando que o Brasil se pronuncie. É hora de
darmos esse grito de independência, é hora de substituirmos todos os
combustíveis.
Deixamos no nosso projeto uma reserva para a indústria
aeronáutica, uma vez que razões há — podem ser também discutidas depois —
pelas quais se deve manter por algum tempo, até que acabe de vez, o
petróleo, embora já exista um avião lançado movido a álcool.
Entendemos
que é hora de o Brasil se levantar, é hora de mostrarmos para as
potências internacionais que estamos querendo caminhar com o progresso e
podemos gerar milhões de empregos, porque teremos em cada ponto do País
— no recôncavo baiano, no Paraná, no Rio Grande do Sul, em Mato Grosso,
em qualquer lugar — condições de fazer óleos vegetais. Basta apenas
produzir o óleo e, com motores modernos, não haverá a necessidade de
desglicerinizá-lo. Basta usar imediatamente o óleo, como muita gente já
faz. Para isso, basta termos coragem.
É um projeto não-local, não
voltado para nenhum Estado em particular, mas para todo o País, do Acre
ao Rio Grande do Sul. Ele dará, sem dúvida, a redenção ao povo
brasileiro, uma vez que estaremos nos antecipando a uma crise cujos
sinais já estão no horizonte.
Esse é o projeto, Sr. Presidente.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Romeu Queiroz) - A Presidência agradece ao Deputado Enéas.
(...)
O SR. DEPUTADO MURILO ZAUITH - Sr.
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, cumprimento os Deputados Enéas e
Elimar Máximo Damasceno, que nos brindam com esse projeto de lei que
estamos discutindo esta manhã. Tenho certeza de que esta Casa poderá
discuti-lo em um âmbito muito maior, porque se trata de um projeto de
vanguarda, um projeto de futuro, um projeto, pelos conhecimentos que os
autores têm, que nos permite produzir, a partir da biomassa, a nossa
energia.
(...)
O SR. DEPUTADO NELSON MARQUEZELLI -
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, se alguém entrasse no momento em
que o Deputado Enéas estava lendo o seu projeto, diria: "Esse Deputado é louco". Ele não é tanto; é menos.
O
projeto de S.Exa. é de futuro. Não há dúvida alguma. O petróleo está
acabando no planeta Terra, e o Brasil saiu na frente já com energia
renovável. Estamos aí com sucesso pleno, como foi bem lembrado, do
PROÁLCOOL, projeto que o mundo namora, e vem agora o aproveitamento de
outras matérias ligadas à agricultura principalmente.
Quero louvar o
Deputado Enéas pelo seu projeto, que é de vanguarda, de futuro. Temos
que pensar nesse projeto já e começar a encaminhá-lo. Temos aí o
hidrogênio vindo no futuro também, temos o gás sendo aproveitado. O
caminho a trilhar é muito grande até substituir o petróleo, e o Brasil é
que vai liderar, sem dúvida alguma, a energia do futuro.
Parabenizo
os Deputados Enéas e Elimar Máximo Damasceno pela oportunidade do
projeto, pela vanguarda do projeto. Evidentemente que ele será
aperfeiçoado com o passar do tempo, mas a idéia é fabulosa.
Deve-se
ressaltar que no passado os grandes cientistas, como Einstein, foram
dados como loucos também. O projeto é de muita importância para nós.
Deputado Enéas, na minha opinião, V.Exa. deve batalhar por esse projeto,
para marcar a nossa passagem e o surgimento da área do agronegócio como
a marca energética do mundo.
Parabéns. Meu voto é favorável.
(...)
O SR. DEPUTADO JOAQUIM FRANCISCO -
Sr. Presidente, percebo claramente, mesmo com a pequena experiência que
tenho, que o Deputado Enéas protagoniza um dos grandes momentos desta
Comissão e deste Parlamento.
As nações que se desenvolveram no mundo
o fizeram porque foram protagonistas e tomaram decisões antecipadas,
tiveram a capacidade de antever o processo de desenvolvimento.
O
projeto tem um estudo bastante aprofundado feito pelos Deputados Enéas e
Elimar Máximo Damasceno e trará benefícios para o meio ambiente, para a
área de saúde, na geração de empregos.
Hoje foi publicado na Folha de S.Paulo
um relatório elaborado por 2.200 cientistas mostrando os danos
provocados nos últimos anos nos ecossistemas do mundo inteiro. Medidas
urgentes precisam ser tomadas.
Além disso, o projeto não é utópico,
não é um sonho, porque a experiência com a mandioca, com o girassol, com
o álcool, já é realizada no Brasil e em vários países do mundo.
Portanto, os meus parabéns ao Deputado Enéas e ao Deputado Elimar Máximo Damasceno pela iniciativa.
Sinto-me realmente confortável em participar desta Comissão neste momento tão importante para a história do País.
(...)
O SR. DEPUTADO EDSON EZEQUIEL - Sr.
Presidente, gostaria de somar a minha voz à de vários colegas que
entendem o mérito da proposta do Deputado Enéas, talvez até pelo estilo
de S.Exa., que foi inclusive professor da minha sobrinha, aliás, um
grande professor na área de Cardiologia. Seu espírito político é
audacioso, impulsivo.
Talvez o Dr. Enéas, com a sua capacidade de
entender o relacionamento humano, tenha até apresentado esse projeto de
forma impactante para que as pessoas absorvessem o seu lado positivo e,
eventualmente, num processo negocial, pudessem estabelecer limites mais
adequados à nossa realidade.
(...)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Romeu Queiroz) - Com a palavra o Dr. Enéas.
O SR. DEPUTADO ENÉAS - Em
primeiro lugar, quero agradecer-lhes as contribuições dadas durante a
discussão. Mas quero cingir-me ainda a alguns comentários que, do meu
ponto de vista, são fundamentais, têm importância primacial.
Não faz
sentido comparar investimento em prospecção de águas profundas, como o
da PETROBRAS, de meio século, com investimentos em biomassa. Chega a ser
risível a comparação. Não há como comparar.
Quando alguns colegas pedem algumas décadas, eu digo que nós naufragaremos junto com o mundo. Algumas décadas é tempo demais!
Alguém disse que nós temos de ter mais cuidado. Lembro que o projeto
vai caminhar na Casa. Haverá discussão em ene Comissões ou no plenário.
Se a maioria dos colegas que se manifestaram está de acordo com a razão
de ser fundamental do projeto, que é a independência na frente do
problema, não vejo motivo para que ele não seja aprovado. E as correções
serão feitas ao longo do percurso; inclusive ajustamentos, que serão
vistos como necessários, sem dúvida.
Alguém falou a respeito dos
custos. Já calculei e mostrei que chegam a 1%. E o colega que citou o
meu nome, Deputado Edson Ezequiel, me conhece. Muitos já me conhecem. Eu
sou cuidadosíssimo com números. Além de Medicina, fiz Matemática e
Física. Sei do que estou falando. Os custos, tão decantados, são
irrisórios. Eles não chegam a 1% do investimento de toda a atividade
industrial do País, por ano. Os dados são de 2004.
Eu tenho dados
sobre a área plantada. Nós usamos hoje, ilustres Deputados, 13%. E temos
dados recentes da EMBRAPA. Segundo o Dr. Rogério Cezar de Cerqueira
Leite, físico, professor da UNICAMP, há uma disponibilidade de terras
aráveis de 90 milhões de hectares, a serem aproveitados sem impactos
ambientais. A área ocupada pela produção de álcool, metade da produção
da cana, é menor do que 3% da disponível. Portanto, seria possível,
ocupando 30% dessa área, aumentar 10 vezes a produção nacional de
álcool.
Não podemos, ilustres Parlamentares, manter-nos à margem do processo.
Eu não tenho nada contra o projeto do biodiesel, que está em
tramitação, mas a produção daquela usina é ínfima. Levaríamos quase um
século para nos tornarmos independentes.
De maneira que insisto na
aprovação do projeto. Comprometo-me, junto com o Relator, que ainda vai
falar, a fazer modificações que não sejam drásticas — como elevar de 5
para 10 anos —, porque aí significa aniquilar o processo. Faremos
ajustamentos ao longo da trajetória.
Agradeço os comentários feitos
por aqueles que inicialmente já se manifestaram e também aqueles feitos
em sentido contrário, que de qualquer maneira engrandecem a discussão.
Insisto: não faz sentido comparar PETROBRAS com — entre aspas —
"biomassa". Isso revela desconhecimento do assunto. Os custos para a
biomassa são ridiculamente pequenos. Também não é verdade que os colegas
da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento
Rural se manifestaram dessa forma. Depende de quem foi consultado. Eu
sou daquela Comissão. O ilustre Presidente, Deputado Ronaldo Caiado, já
me convidou para, em particular, apesar de o projeto não estar lá, junto
com o Deputado Antonio Carlos Mendes Thame, trabalharmos na agricultura
energética.
Era o que tinha a dizer.
(...)
O SR. DEPUTADO ENÉAS - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Romeu Queiroz) - Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO ENÉAS -
Sr. Presidente, se não apresentarmos um projeto, não haverá demanda.
Nós temos de acenar para o produtor. Por isso, peço a V.Exa., já que nós
temos a maioria... Sr. Relator, apresente o projeto para votação, e o
Presidente prossegue depois...
(...)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Romeu
Queiroz) - A Presidência está observando as manifestações. Percebo que,
se o projeto for posto em votação, poderá ser derrotado. Então, vamos
perder a oportunidade de ter um grande projeto, como é este de autoria
do Deputado Enéas.
(...)
O SR. DEPUTADO ENÉAS - Sr. Presidente, um minuto, por favor, com a permissão de V.Exa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Romeu Queiroz) - Antes da votação, a Presidência concede a palavra ao Deputado Enéas.
O SR. DEPUTADO ENÉAS -
Sr. Presidente, eu quero dizer algo que está desde o início no meu
espírito aqui. O Professor de macroeconomia que me acompanha, Prof.
Bautista Vidal, que é o criador do programa do álcool, e outras pessoas
foram consultados. Quando nós trabalhamos 5 anos, nós estudamos toda a
questão. Dizer que é inviável em 5 anos, é achar — ou seja, é o verbo
achar. "Eu acho que é inviável." Por que é inviável? Por que 10 anos são melhores do que 5 anos?
Eu
gostaria, Sr. Relator, que o projeto fosse apresentado na íntegra, sem
nenhuma modificação. Que percamos, se for o caso. Sugiro ao Relator que o
projeto seja apresentado e votado na íntegra. Espero o resultado da
Comissão. Se for o caso, Sr. Presidente, V.Exa. designará outro Relator.
Mas teremos o voto individual, de cada um.
Repito: não vejo por que
protrair de 5 para 10. Em que melhora? Qual é a dificuldade de se
construírem pequenas usinas, quando todos os custos foram avaliados?
Ninguém pergunta sobre os custos.
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO ENÉAS - Um minuto, por favor, eu estou falando. Respeitem os colegas.
Vistas
já foram pedidas. Já estudaram o projeto, apresentaram substitutivos.
Sr. Relator, por favor, mantenha o projeto na íntegra para votação.
Vamos ver se ganhamos ou perdemos. Nas Comissões, ninguém ganha por
unanimidade, Sr. Relator. Há maioria e minoria, como no plenário.
(...)
O SR. DEPUTADO FERNANDO DE FABINHO -
Sr. Presidente, agradeço a V.Exa. a paciência e aos colegas a
compreensão, por terem acompanhado nosso voto. Esse é um marco
importante para o desenvolvimento do País e para a nossa matriz
energética.
Parabenizo o Deputado Enéas por ter-nos brindado com esse belíssimo projeto.
Tenho certeza absoluta de que esse projeto vai modificar a história do Brasil.
Obrigado.