quinta-feira, 9 de outubro de 2003

Transcurso do Dia Mundial do Coração. Comemoração dos 25 anos da Fundação Zerbini/INCOR e dos 60 anos da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Data: 09/10/2003
Sessão: 217.1.52.O
Hora: 11h18

O SR. ENÉAS (PRONA-SP. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, colegas médicos, cardiologistas, médicos de outras especialidades, Deputados, existe um livro pequeno, na verdade um opúsculo, de Lewis Carroll, que tornou conhecida, por toda a população do planeta, a figura de Alice. Refiro-me a Alice no País das Maravilhas e Alice no País do Espelho. Há um certo trecho, que todos lemos, em que Alice está numa encruzilhada e há 2 caminhos, dentre os quais tem de escolher um, e ela pergunta para a imagem de um gato que se configura na esquina: "Diz-me, gato, qual o caminho devo seguir?" E a imagem do gato responde: "Depende de para onde tu queiras ir". Ela diz: "Eu não sei para onde quero ir". O gato responde: "Então, qualquer caminho serve".
 
Contei rapidamente a história para dizer aos colegas Parlamentares e àqueles que neste horário estejam assistindo à sessão que a cardiologia sabe o seu caminho, não tem esse problema da figura inesquecível de Alice, sabe exatamente o que faz. E seria despiciendo tecer mais uma série de encômios a instituições tão conhecidas, respeitadas e respeitáveis como o Instituto do Coração e a Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Prefiro citar para os colegas médicos, Deputados e aqueles que assistem à sessão alguns pontos fundamentais em qualquer atividade científica. Um deles é a coragem para enfrentar o desconhecido, para desenvolver técnicas novas. Isso ocorre desde a antigüidade. Se Versálio não tivesse tido coragem, talvez até hoje não soubéssemos anatomia, porque ele roubava cadáveres para dissecá-los. É necessário coragem, como teve, por exemplo, o primeiro homem que pôs um cateter na veia e foi até à sala de raios X para ver o cateter no coração. Enfim, a característica precípua é ter coragem. É fundamental ter esmero, dedicação e obstinação — sem isso não se anda —, em qualquer atividade, precipuamente na científica, objeto da homenagem de hoje.

Outra característica importante é ter rigor, esmero, cuidado, inclusive na linguagem. Nós, cardiologistas, médicos, Deputados, temos de ter cuidado quando nos exprimimos para não cometermos cincas imperdoáveis, erros crassos, que fazem até muita gente rir.

Confúcio, certa feita, interrogado por seus assessores, há muito tempo, 2 milênios, disse: "Se o que eu digo não é o que pretendo dizer, o indivíduo que está me ouvindo não entende; não sabe o que tem de fazer". Se aquilo que deve ser feito não o é, a moral e as artes decaem. Se a moral e as artes decaem, o povo é entregue à confusão. É mais ou menos um retrato do que se passa, em grande escala, em muitas esferas do Poder em nosso País.

Para concluir, quero dizer aos meus colegas médicos e Deputados e àqueles que assistem à nossa alocução que Sócrates andava, certa feita, pelas ruas de Atenas — ainda não era filósofo renomado, mas um ser humano como qualquer outro —, com um daqueles que seriam posteriormente seus discípulos, se não me engano Trasímaco, e, ao passar perto de uma pitonisa, de uma sibila, perguntou: "Quem é o homem mais preparado, mais sábio do mundo?" E a pitonisa disse: "Este que está do teu lado, é Sócrates". Sócrates disse: "Mas eu sei que nada sei". E ela disse: "Nisso reside tua sabedoria".
 
Sócrates ficou perturbado e saiu pelas ruas de Atenas perguntando: "Será que é verdade? As pessoas pensam mesmo que sabem?" E perguntou ao primeiro general que passava: "Diz-me, tu que és um General, o que é a coragem". O General disse: "Coragem é atacar o inimigo". Sócrates argumentou que nem sempre; às vezes é preciso recuar para uma posição estratégica. Isso não quer dizer falta de coragem. O General, que era um homem lúcido, aquiesceu e disse: "É verdade". E Sócrates fez-lhe a pergunta novamente. E o General deu outra resposta. E Sócrates mostrou que não era, e foi um ir e vir de perguntas e respostas. Ao final de tudo aquilo, o General ficou irritado e disse: "Pronto, eu não sei, eu não sei o que é coragem, diz-me". Sócrates: "Mas eu não disse que sabia. Vamos, nós dois juntos, procurar a verdade". Nasceu a maiêutica.

Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)

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