quarta-feira, 11 de junho de 2003

COMISSÃO DE RELAÇÃO EXTERIORES E DE DEFESA NACIONAL - Exposição acerca da atuação da Força Aérea Brasileira em prol da defesa nacional.

Data: 11/06/2003
Sessão: 0762/03
Hora: 14h33 

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Tem a palavra o Deputado Enéas, do PRONA de São Paulo.

O SR. DEPUTADO ENÉAS - Sr. Ministro, essa heresia que foi feita no Brasil é algo de que o Deputado Jair Bolsonaro e eu discordamos totalmente.

Quero agradecer a nossa Presidenta, que não é Presidenta, é mestre-escola. Eu estava para sair e ela fez sinal para eu ficar e fiquei. Obedecemos à nossa Presidenta de maneira bem disciplinada.

Sr. Comandante, são só algumas considerações. Já tive o privilégio de almoçar com o seu Estado-Maior, de modo que já nos conhecemos. Acredito que alguns comentários devem ser feitos, até para que V.Exa. sinta que não é opinião de todos o que um ou outro diz.

Essa história de que não vamos entrar em guerra é coisa de criança, é Alice no País das Maravilhas. Em nenhum momento na história do mundo foi possível dizer - talvez nunca possa ser - que não vale a guerra. Essa afimação é extremamente infantil, com todo respeito ao colega que disse isso. Não se pode afirmar isso nunca. A História está cheia de exemplos.

Gostaria de dizer a V.Exa. que isso não é opinião geral. Não é só porque o Deputado Jair Bolsonaro e eu fomos militares, mas muita gente sabe que tem de haver Forças Armadas, senão fica igual ao Kuwait: entra um bruto e acaba.

Quando os países hegemônicos decidem fazer o que querem, se não houver uma exército, fazem muito mais do que querem. Essa história de países que vivem em sã harmonia é conto de fadas. Quero deixar isso bem claro para V.Exa.

Segundo, dizer que Aeronáutica tem de abrir mão de cuidar do espaço aéreo, isso também é pueril, extremamente pueril. Conforme disse meu colega Deputado Jair Bolsonaro, como vamos mexer em algo que está dando certo?

Há pouco tempo estive na Amazônia. Aliás, recebemos também convite do Comandante do Exército para visitar o Hospital Militar, onde trabalhei há mais de 30 anos, não naquele. Trabalhei no Hospital Central do Exército do Rio. Uma colega, impressionada com a limpeza, disse: puxa, não vejo uma gaze no chão. Eu disse: claro, se tiver gaze no chão, vai preso. O problema é simples: obedece porque tem que obedecer, e ponto final. Não fica essa história de falar 10 horas a mesma coisa e não fazer.

O que acontece nos hospitais militares comparados com os hospitais públicos? Também trabalhei em hospitais públicos, onde as baratas andam nas enfermarias. Falo de cátedra. Sou formado há mais de 30 anos em Medicina. Se alguém for a um hospital - sem citar nome - do Rio de Janeiro, verá baratas andando. Vinte anos depois, há baratas, que são netas, bisnetas, tataranetas daquelas baratas (Risos.) Falta ordem, disciplina. Nas nossas Forças Armadas não há leilão de nada, o sujeito cumpre, e ponto final.

Dizer que a Aeronáutica deve abrir mão do controle aéreo - não é opinião geral - não dá para entender. Pelo contrário, a Aeronáutica deve continuar. V.Exa. diz que não luta. Perdoe-me, Excelência, deve lutar sim, porque funciona e muito bem. Controle aéreo é segurança nacional.

Um reparo, com todo respeito. V.Exa. falou, com a educação que o caracteriza, sobre os aviões que estão atravessando fronteira e levando tóxicos, contrabando de armas. Um colega de V.Exa., um oficial general, cujo nome não estou autorizado a citar, disse-me que numa certa região fronteiriça na zona oeste do Brasil, pelo menos 300 aviões cruzam o espaço e que o piloto do avião clandestino, de quando em quando, se recebe ordem para parar, faz gestos obscenos. Perguntei: por que não se abate o avião? Pela segunda vez dá-se a ordem de descer e ele faz gestos obsceno.

Estamos numa Comissão de Defesa Nacional. A nossa Presidenta tem uma atuação que todos elogiamos. Por que não se pensa em movimentar o Congresso. Basta abater o primeiro avião que acabará com isso de vez. É preciso abater um. Depende desta Casa e não dos senhores. Se os senhores tiverem passe livre para isso, tenho certeza de que um comandante militar não dormirá em serviço.

V.Exa. chegou agora e não ouviu, mas há uma gravação. Estavam dizendo: não vão derrubar a gente, não. E não derruba mesmo, só porque, às vezes, é fazendeiro, não sei o quê. Mas se for fazendeiro de bem, ele não tem por que continuar. Ele desce, não é verdade, Comandante? O que estou dizendo, V.Exa. sabe. Por que não se dá ao nosso comandante que está no avião de carga o direito de abater?

V.Exa. falou da colcha curta e de novo estamos conversando. Mas qual é o órgão que não está de colcha curta? O Comandante da Marinha nos disse aqui, com uma sinceridade impressionante, que, por ano, está perdendo navios, porque não tem como recuperá-los. V.Exa. nos disse - deixe-me ver os números, bonitos - que das 714 aeronaves, 350 estão indisponíveis. Pergunta do Deputado Jair Bolsonaro, que não fez, S.Exa. ficou muito entusiasmado: Há combustível para as outras 350, Comandante? Há alimentação para os praças? No Exército sei que não há. Se não há, a resposta todos sabemos. A resposta é a mesma em todos os níveis. Faltam recursos - para os Ministros dos Transportes, da Saúde -, que são desviados. Sabemos como e para quê. Oficialmente, para pagar o serviço de dívida pública.

Quero também falar sobre o que o meu amigo e colega disse. Já fizeram tudo que quiseram antes. Privatizaram tudo: Vale do Rio Doce, gigante da mineração, a ECELSA, a CSN. Tudo. O que falta? Como ele disse, a Previdência. Falta a Previdência. Aí fora está a briga. V.Exa. falou das 180 mil horas de vôo e mostrou, com honestidade, que não tem sido assim.

Uma palavrinha final sobre a Amazônia. Digno de elogio, o trabalho da Força Aérea que V.Exa. dirige. Recentemente estivemos lá e testemunhamos in loco o belíssimo trabalho que a Aeronáutica faz, levando alimentos, remédio, atendendo às populações ribeirinhas, indo a locais onde não há acesso a nada, onde vivem quase na Idade da Pedra. A única mão amiga que chega é a das Forças Armadas.

Seria importante que a nossa Casa acordasse para isso, que o Congresso percebesse o extraordinário papel das Forças Armadas em conjunto com a Aeronáutica. A Aeronáutica, como ponte, levando aquilo que o Marechal Rondon falava: integração.

Quero parabenizá-lo pela beleza da exposição que já conhecia. Creio que chegará o dia em que esse ranço antimilitarista desaparecerá também desta Casa e os Congressistas perceberão que é nas Forças Armadas que reside, sem dúvida, o maior exemplo de democracia. Sou um exemplo disso. Sem as Forças Armadas não teria me formado médico. Obrigado a V.Exa.

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