quarta-feira, 11 de fevereiro de 2004

Contestação ao pronunciamento do Deputado Miro Teixeira em defesa da política social do Governo Luiz Inácio Lula da Silva. Esclarecimento sobre os índices de desemprego no País. Queda da participação dos salários na renda nacional.

Data: 11/02/2004
Sessão: 027.3.52.E
Hora: 17h02

O SR. ENÉAS (PRONA-SP. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, senhores brasileiros que assistem aos nossos pronunciamentos na Câmara, raramente venho à tribuna, raramente faço uso deste tempo a que tenho direito, mas fiquei imensamente impressionado com as figuras de retórica extremamente bem aduzidas por uma pessoa por quem tenho imenso respeito, um colega conhecido meu há quase 3 décadas, por quem tenho muita admiração: Deputado Miro Teixeira.

Diante dos encômios que S.Exa. fez ao atual Governo, do qual faz parte, quero pedir-lhe desculpas, e a expressão, de maneira alguma, é um desrespeito a sua alocução, mas me parece que o país ao qual se referiu o nobre Deputado aos outros eminentes Líderes governistas não é o mesmo em que vivo.

Senão, vejamos: um dos índices mais sérios relativo ao que ocorre no âmbito governamental de qualquer nação é o percentual dos cidadãos que ocupam cargos, que estejam empregados em qualquer ramo de atividade. Curiosamente temos, no exercício de 2003, quando se chegou a um dos piores patamares do País, as estatísticas oficiais apresentando 12,3% em relação ao desemprego, o que absolutamente não é verdadeiro, uma vez que a maneira como se afere o desemprego é extremamente desleal: só se considera uma pessoa desempregada aquela que realmente age como tal no último mês, ou seja, que está procurando emprego. Quantos deixam de fazê-lo por absoluta falta de esperança de conseguir um posto de trabalho numa indústria que não tem mais o que fazer para se manter viva?

O desemprego real — já falei sobre isso para o Brasil inteiro — chega à taxa de 25% da População Economicamente Ativa (PEA), que também não reflete a realidade. Dever-se-ia falar de uma população maior e não da dita economicamente ativa, que chega a algo em torno de 80%. Em vez da PEA, dever-se-ia utilizar a População em Idade Ativa — PIA . Mas aceitemos a PEA.

Pois bem, os dados reais, todos feitos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mostram que essa cifra chega a 25%. Isso é um caos, é o pior dos absurdos!

Vamos a outro dado também importantíssimo. Sabe-se que — não há dúvida quanto a isso — um dos melhores índices, dentre todos os que traduzem o bem-estar de uma população, é o percentual dos salários na renda nacional.

Senhores, detenhamo-nos a observar esses índices. Em 1964, antes da ascensão ao poder do Regime Militar, o percentual representado pela massa salarial da Nação girava em torno de 62%. Estudos detalhados e cuidadosos feitos acerca dessa tese mostram-nos de maneira irrefragável e irretorquível que esse percentual vem caindo com o tempo — é verdade.

Por que tecer aqui elogios a governos anteriores? Não. Vem caindo, sim. Quem calcular a derivada primeira da curva verificará que o percentual dos salários vem caindo. É possível, fazendo o ajustamento de curvas — para quem entende um pouco de cálculo —, mostrar que a inclinação é quase a mesma até 2002.

Vejam um novo absurdo: no final de 2002 já se está diante de um índice terrível, que chega a 36,5%.

Repito: essa é a participação dos salários na renda nacional.

Mas vejam o que faz o Governo dito como dos trabalhadores: no ano transato, 2003, de 36,5% chega-se a 31% — aliás, 31 e uma fração de que não me recordo —, caindo 5 pontos percentuais. Foi o pior ano no que concerne à participação da renda dos trabalhadores na renda nacional. Não há como negar esses dados. São irrefutáveis e de fonte conspícua. Números não mentem.

Paremos — perdoem-me — com a hipocrisia! Tudo está piorando a olhos vistos. Tudo mais é conversa fiada. É um abuso de retórica, embora extraordinária, e tenho o dever de elogiar, mas também é minha obrigação deixar claro aqui que o meu respeito não é, de maneira nenhuma, uma vacina contra minha capacidade de pensar.

Muito obrigado.

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