quarta-feira, 19 de março de 2003

COMISSÃO DE RELAÇÃO EXTERIORES E DE DEFESA NACIONAL - Considerações sobre a guerra dos Estados Unidos contra o Iraque. Discussão acerca de convite ao Ministro das Relações Exteriores para prestar esclarecimentos sobre a posição do Governo brasileiro em relação à invasão do Iraque pelos Estados Unidos.

Data: 19/03/2003
Sessão: 0125/03
Hora: 10h25

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Zulaiê Cobra) - Tem a palavra o Deputado Enéas, último orador inscrito.

O SR. DEPUTADO ENÉAS - Sra. Presidenta, parabenizo-a pelo excelente desempenho ao assumir a Presidência desta Comissão.

Também assinei a moção, pois ninguém em sã consciência pode ser a favor de qualquer forma de guerra, e, com o devido respeito a tudo o que foi dito, quero deixar um comentário extremamente rápido.

Em todos os tempos, houve guerras no mundo, e sempre ditadas por interesses econômicos - macroeconômicos, não microeconômicos. Sempre foi assim. A história da Guerra de Tróia é contada para crianças de um jeito e, para quem estuda em profundidade, de outro.

Meu ilustre colega, o Deputado Coronel Alves, chamou a atenção para uma possível retaliação por parte dos Estados Unidos. Com todo respeito, não há nenhuma razão para se agir como se agiu contra o Afeganistão, atingindo civis inocentes, como se está fazendo agora. 

Na verdade, o que se passa é a absoluta deterioração do sistema financeiro internacional, que tem a égide dos Estados Unidos. O sistema financeiro internacional vive hoje uma bolha especulativa, que vai explodir. A guerra é apenas um instrumento. Um dos colegas salientou também a importância não só do petróleo, como do euro, que põe em risco a soberania do dólar, moeda essa que não tem mais nenhum lastro, que é uma absoluta ficção.

Antigamente, antes da decisão de Nixon, havia necessidade de um lastro de ouro, que não é mais necessário. Emitem-se dólares na velocidade que se quiser, chegando à cifra astronômica de bem mais de 1 trilhão de dólares girando por dia no sistema financeiro.

A meu ver, o ponto mais sério ainda é que nenhuma nação está a salvo disso. É claro que temos que fazer moções e passeatas pela paz. Claro que V.Exa., com o poder de que dispõe nesta Comissão, deve usar todo o esforço no sentido de, pelo menos, usando uma expressão latina, no jus esperneandi, fazer chegar à potência maior o nosso vagido, nosso sussurro pedindo que isso pare.

Temos de lembrar que, em agosto de 1945, em Hiroshima, uma cidadezinha no centro do Japão, que eu conheci, foi lançada uma bomba pequenina, de 20 quilotons, menos de um milésimo do atual arsenal bélico dos Estados Unidos. Naquela ocasião, os donos do poder mundial já tinham decretado o fim da guerra, isso já estava decidido definitivamente, e, numa demonstração de força, Hiroshima foi destruída.

Os fatos se repetem, como a colega Deputada lembrou: foi a invasão da Baía dos Porcos, foi Granada, foi o Kwait mais recentemente. Não adianta termos ilusões: o mundo é assim, os países não se relacionam por amizade, é por interesse. Vamos ser realistas, vamos emergir da infância.

Quando S.Exas., os donos do mundo, determinaram os tratados de não-proliferação de armas nucleares, já estavam armados até os dentes. Hoje, o que vemos? Uma nação como a nossa, prodigiosamente bem servida pela natureza; com um potencial hídrico, potamográfico, fluvial que chega a abrigar 21% da água potável do planeta, pelo qual já se prevêem guerras; que tem uma riqueza mineral inimaginável; que tem um dia de sol equivalente a 120 mil usinas de Itaipu a todo o vapor, tem suas Forças Armadas combalidas, sem nenhum recurso caso um ataque seja perpetrado contra nós.

Aproveito a oportunidade que V.Exa. me deu para deixar, ao lado da moção, que é significativa, um apelo: que V.Exa. converse também com o Ministro da Defesa e as autoridades militares para que acordemos do sono letárgico em que nos estão fazendo mergulhar; para que saibamos que, num tempo não muito distante, poderemos ser nós no lugar do Iraque.

Muito obrigado a V.Exa.

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